segunda-feira, 25 de junho de 2018

O Palácio da Ventura * Antero de Quental - Pt

ANTERO DE QUENTAL (1842-1891)

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Poeta, pensador, ensaísta e activista político, foi um dos precursores das chamadas «Conferências Democráticas» e um dos principais introdutores do socialilsmo revolucionário em Portugal, destacando-se enquanto jovem estudante em Coimbra como animador cultural e ideológico.
Considera-se que se trata do expoente máximo da Geração de 70 e dos chamados «Vencidos da Vida», sendo a sua obra indistinguível na prática da profunda crise espiritual que o abalou e fortemente marcada pelo tema da morte e pela influência não apenas dos socialismos de Proudhon e Michelet senão também pelas do hegelianismo, do cristianismo e do budismo.
Padecendo de um mal-estar que o afectava pelo menos desde a morte de seu pai e que foi atingido da cor de um obstinado e sombrio pessimismo os seus escritos, adquiriu na sua cidade natal o revólver de que a II de Setembro se serviu para disparar em frente a um letreiro rezando «Esperança», no jardim de um convento, os dois tiros com que pôs termo à vida.

Odes Modernas (1865), Causas da Decadência dos Povos Peninsulares (1871) Primaveras Românticas (1875), Sonetos Completos (1886), e Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX (1890) são obras suas que se podem destacar.
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O PALÁCIO DA VENTURA

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagbundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!

Abrem-se as porta d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
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Colaboração do Primo José Fabiano, mineiro radicado em Faro - Pt

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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Vendo a Morte - Soneto * Manuel Laranjeira - Pt

*Vendo a Morte / Manuel Laranjeira - Pt*

Colaboração do primíssimo Escritor José Fabiano, mineiro residente em Faro - Pt:

Do livro "SUICIDAS" Antologia de Escritores Suicidas Portugueses, de Pablo Javier Pérez López, que se ocupa dos poetas Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Manuel Laranjeira, Mário de Sá-Carneiro, Florbela Espanca e Barão de Teive, transcrevo o soneto "Vendo a Morte", de Manuel Laranjeira (1877-1912):

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Em tudo vejo a morte! e, assim, ao ver
que a vida já vem morta cruelmente
logo ao surgir, começo a comprender
como a vida se vive inutilmente...

Debalde (como um náufrago que sente,
vendo a morte, mais fúria de viver)
estendo os olhos mais avidamente
e as mãos prà vida... e ponho-me a morrer.

A morte! sempre a morte! em tudo a vejo
tudo ma lembra! e invade-me o desejo
de viver toda a vida que perdi...

E não me assusta a morte! Só me assusta
ter tido tanta fé na vida injusta
... e não saber sequer para que a vivi!
*

quarta-feira, 6 de abril de 2016

domingo, 3 de abril de 2016

domingo, 10 de janeiro de 2016

Não Há Glamour No Suicídio Dos Poetas/Antonio Carlos Prado * Antonio Cabral Filho - RJ

Não Há Glamour No Suicídio Dos Poetas
Antonio Carlos Prado - Revista Istoé
*

Não há glamour no suicídio dos poetas

Torquato Neto, um dos melhores poetas que o 

País já teve, ganha finalmente uma biografia

 à sua altura. O livro mostra que ele sentia que

 estava deprimido e que lutou, 

enquanto pôde, para não se matar


Sempre que um poeta se suicida, há gente que corre a apontar, em alguns de seus versos, sinais de que neles está enunciado o desejo de morte. Trata-se de um olhar literário idealizado e equivocado: primeiro porque todo poeta canta a morte; depois porque tal simplificação empresta “glamour ao suicídio”, que tem tudo de tragédia e nada de charmoso. Finalmente, isso cria uma espécie de “depressão do verso”, misturando o que é psicopatologia com estilo poético e genialidade. A muito boa notícia é que acaba de desembarcar nas livrarias uma preciosa obra de autoria do biógrafo, roteirista e jornalista curitibano Toninho Vaz, que, felizmente, desmonta esse ingênuo e enevoado modo de ver a obra dos criadores que adoecem de depressão e seus gestos extremos. Trata-se de “A Biografia de Torquato Neto” (editora Nossa Cultura).
O piauiense Torquato Pereira de Araújo Neto foi poeta (um dos melhores que o Brasil já teve), ator e cronista, letrista e o verdadeiro idealizador do movimento cultural denominado “Tropicalismo”. Escreveu ele: “Um poeta desfolha a bandeira/e eu me sinto melhor colorido/pego um jato viajo arrebento/com roteiro do sexto sentido/voz do morro, pilão de concreto/tropicália, bananas ao vento”. Agora, em 2014, comemoram-se sete décadas de seu nascimento. Quando completou 28 anos de idade, em 1972, Torquato vedou porta e demais fendas do banheiro de seu apartamento no Rio de Janeiro. E abriu o gás. Na linhagem do talento de tantos que partiram tirando a própria vida (Ana Cristina Cesar, Sylvia Plath, Anne Sexton, Amy Winehouse), também Torquato teve a sua tragédia vestida de glamour por aqueles que acham “gênio literário o autor que se suicida” (nem Camilo Castelo Branco, que desistiu de viver temeroso de uma cegueira que avançava em decorrência da sífilis, escapou dessa tola roupagem).
O mérito maior da obra de Toninho Vaz é não embarcar na viagem do herói romântico. Com depoimentos e documentos chocantes, ele mostra o ápice de um Torquato que de Teresina desembarcou no Rio de Janeiro caindo de charme e alegria, brilhando intelectualmente, indo atrás de seus ídolos Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes. Um Torquato que deixou o eco de suas palavras, muito mais determinado a falar do que a registrar por escrito aquilo que produzia. “A decisão de fazer essa biografia (...) veio ao mundo no dia em que constatei que Torquato não tinha uma ‘obra’ literária ou poética”, escreve o biógrafo. O poeta Paulo Leminski, falecido em 1989, foi incisivo: “Como Buda, Confúcio, Sócrates ou Jesus, Torquato não deixou livros”. Toninho Vaz expõe também a debacle psíquica de
seu retratado. A depressão hoje tem cura com medicamentos, mas nos anos 1970, quando Torquato se internou na Clínica do Engenho de Dentro, a medicina possuía parcos recursos. Aos que gostam de adoçar com romantismo a doença, eis um detalhe: Torquato não queria se matar, queria escapar do redemoinho, como mostra o autor por meio de um texto que o próprio poeta escreveu e levou à clínica – ficara esquecido no bolso da calça, usada no dia anterior e nem sequer trocada para a internação. E em seu diário, registrou: “Eu preciso conseguir os instrumentos que me preservarão e me desviarão do encontro marcado”. É necessário separar obra triste e melancolia doentia. Johann Wolfgang von Goethe banqueteava enquanto uma onda de suicídios ocorria devido ao seu personagem romântico Werther. E o nosso grande artista Tito Madi compôs a depressiva “a noite está tão fria, chove lá fora” em plena manhã, enquanto tomava chope e aguardava seu voo num sábado ensolarado no aeroporto do Galeão. Parabéns a Toninho Vaz pelo livro. E parabéns, Torquato, você queria viver.
Antonio Carlos Prado é editor executivo da revista ISTOÉ 
Fonte
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/368337_NAO+HA+GLAMOUR+NO+SUICIDIO+DOS+POETAS 
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